Os anos 80 são importantes como o contexto que explica o surgimento de uma nova e brilhante geração de poetas nos anos 90. No arco que une e desune os anos 70 e 90, vemos uma trajetória que levou da contracultura à reação cultural. Com a saída de cena do socialismo real soviético, o neoconservadorismo e o neoliberalismo polarizaram o debate político. Em cultura, a onda neoconservadora, e o declínio relativo dos apelos transgressores, favoreceu a aproximação, até então inédita, entre instituições tradicionais do saber literário, e da poesia a elas ligada, e a instituição universitária. Temos assim uma reconfiguração do campo institucional cultural brasileiro. Dia-logam mais de perto a USP, as pós-vanguardas paulistas (viúvas do concretismo...), a Biblioteca Nacional, a Academia Brasileira de Letras. Poetas do Nordeste como César Leal, Marcus Acioly, Adriano Espínola, Ruy Espinheira Filho e muitos outros, encontraram espaço de divulgação na revista Poesia Sempre, publicada pela Biblioteca Nacional. Assim também poetas de estilo mais tradicional como Ivo Barroso, Ivan Junqueira, Marcos Lucchesi, Bruno Tolentino, Alexei Bueno.
Um dos elementos da poesia marginal deixado de lado pela geração 90 foi o coloquial desleixado. A geração 70 escrevia num coloquial chegado à gíria de época. A poesia de Paulo Leminski, por exemplo, é toda escrita em gíria jovem dos 70. Os poetas dos 90 optam por um coloquial mais “nobre”, livre da gíria, como vemos em Paulo Henriques Britto e em Antonio Cícero, dois veteranos dos 70 que somente encontraram seu público nesse novo contexto dos 90. Em outros casos, ocorre mesmo a opção por linguagens mais preciosistas, como o primeiro Carlito Azevedo e uma poeta forte como Cláudia Roquette-Pinto. Há linguagens sofisticadamente alegóricas, como em Horácio Costa, e há registros mais idiossincráticos, como nos versos de Lu Menezes ou Valdo Mota. É grande a diversidade nas buscas de caminhos mais elaborados, alternativos ao coloquial chão dos 70. Predomina o poema curto, mas há vozes remando contra a corrente, como a de Alexei Bueno, que insiste no verso longo, prolífico, prolixo. Outro bom poeta da nova geração que evolui no sentido de uma discursividade maior é Rodrigo Garcia Lopes. Poetas ótimos revelados nos últimos anos são o paulista Marcos Siscar e os cariocas Eucanaã Ferraz e Sérgio Nazar David.
Por: Leia Farias
Nenhum comentário:
Postar um comentário